segunda-feira, 13 de outubro de 2014

GUAJUVIRAS: O LUGAR, A LUTA E SUAS PERSPECTIVAS

      O processo de produção e organização do espaço de Canoas está associado à intensa urbanização nas últimas décadas, produzindo uma cidade complexa em relação à distribuição das pessoas, dos sistemas de objetos (edifícios, casas, lojas, shoppings, ruas, avenidas, parques, igrejas, indústrias, universidades) e de seus fluxos territoriais (sistema viário). Sua complexidade reflete o processo da urbanização brasileira, apresentando diferenciações espaciais: as centralizadas que possuem infraestrutura básica, moradores com média e alta renda, desenvolvimento privado de atividades culturais e lazer; as segregadas, cujas moradias se encontram em áreas de risco socioambiental, possuem infraestrutura básica precária, além de estar marginalizada quanto ao processo de desenvolvimento cultural, mostrando uma paisagem fragmentada e desorganizada com espaços deteriorados.
     O Guajuviras representa, na literatura, lugares que Michael Schwarzer (apud Bauman, 2009: 26) chama de espaços periféricos de desmembrados, espécies de “zonas fantasmas”, nas quais “os pesadelos substituem os sonhos, e perigo e violência são mais comuns que em outros lugares”. Ainda 
que associado na mídia por estas características, há imaginários que ajudam a desconstruir parte dessas associações.
     Para os moradores do Guajuviras, a data mais importante é 17 de abril de 1987, correspondente ao dia da ocupação que se deu a partir de um processo de invasão no Conjunto Habitacional Ildo Meneguetti por pessoas sem moradia. O bairro Guajuviras nasceu dessa ocupação e, na época, foi considerado o maior aglomerado de habitações populares do Rio Grande do Sul. Foi um período que marcou a luta pela moradia na Região Metropolitana de Porto Alegre e no Estado
   A palavra “invasão” é muito mencionada não somente pelos entrevistados, mas também pelas pessoas com quem conversamos no bairro. A palavra “invasão” vai ao encontro do quanto se torna significante este espaço pelo direito à moradia. Portanto, este lugar não é apenas um palco; mas, sobretudo, um ator na dinâmica social. Estas referências tornam-se marcos importantes para compreender as relações socioespaciais consolidadas no bairro Guajuviras, referenciadas sobretudo em identidades que se relacionam com a moradia, com o urbano. 

Relatos individuais de jovens moradores do bairro Guajuviras – Origens

Eu vim desde a invasão, desde quando era Cohab, daí nasci no hospital da brigada, mas desde pequeno moro aqui, quando meus pais vieram não tinha dono aqui.

Eu nasci em Porto Alegre, mas vim morá aqui no Guajuviras. Meu pai veio do interior para trabalhar aqui, mas já faz uns 20 anos isso, ele ajudou a fundá o Guajuviras, a mãe também era de cidade pequena, e conheceu o pai daí teve que vim morá aqui.

Meus pais vieram pra cá na invasão, e depois que meu pai morreu, minha vó veio morar com a gente, pra minha mãe não ficar tão sozinha cuidando de mim. Como ela sempre trabalhou fora ficava difícil.

Eu nasci aqui em Canoas, sempre morei aqui, meus pais eu não sei muito bem porque vieram morar aqui, só sei que moravam aqui desde quando houve a invasão.

Vim morar quando ocorreu a ocupação das casas e apartamentos, eu nem tinha nascido ainda, mas sei que meus pais vieram bem no dia da invasão, eles queriam um lugar deles, pra eles morarem, e como tava tendo a invasão, eles vieram morar aqui.

Fonte: Relato de pesquisa obtido por entrevistas a jovens moradores do bairro Guajuviras, Canoas/RS, 2009

Relatos individuais de jovens moradores do bairro Guajuviras – O lugar que moro

Atualmente eu gosto, mas já odiei. Mas por problemas meus, problemas familiares. O bairro é violento, a violência é mais concentrada nas vilas, eu nunca fui assaltado, eu moro num setor tranquilo. O lugar é afastado do centro, moro no setor 5, e se não me engano é o maior que tem, no Guajuviras as ruas não tem nome, mas o engraçado é que nas vilas as ruas tem nomes.

Moro no setor 1 com meus pais, estudo na 5ª série. Nasci no bairro, tenho 7 irmãos, meus pais vieram de Rio Branco, eles trabalham, a minha mãe é faxineira e o meu pai é maquinista. Eu cuido dos meus sobrinhos, e 2 irmãs moram fora, numa casa atrás. 

Morava na Mathias, e depois da invasão, viemos pra cá, mesmo com medo das mortes, queriam uma casa própria. Já moramos aqui há 11 anos e meio, e antes era bem pior do que agora, muito matagal.

Eu moro bem no setor da invasão, vê gente fazendo tudo, fumando, matando.Sou juntado com minha namorada, moramos num apartamento no setor 5, a minha namorada tem 18, daí a gente resolveu se juntá e morá junto porque já namorávamos há quase 5 anos, eu trabalho num supermercado, mas quando to de folga gosto de fica em casa, mas também não esqueci dos amigos, saiu igual com eles. Faço faculdade de Biologia, é difícil trabalhar, estudar e sustentar casa.

Fonte: Relato de pesquisa obtido por entrevistas a jovens moradores do bairro Guajuviras, Canoas/RS, 2009

Extraído de:  http://www4.fsanet.com.br/revista/index.php/fsa/article/view/86/74

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